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8° Premio USP de Direitos Humanos (2007)

A outorga do Prêmio ocorreu no dia 7de dezembro de 2007, em sessão solene na Sala do Conselho Universitário.



 

 

Categoria Individual

Dom Paulo Evaristo Arns - Cardeal Emérito de São Paulo

Nascido em Criciúma, Santa Catarina, em 1921, Dom Paulo Evaristo Arns ingressou na ordem franciscana em 1939. Ordenou-se presbítero em 1945 em Petrópolis, Rio de Janeiro. Na Sorbonne, em Paris, laureou-se em Patrística e Línguas Clássicas. Trabalhou como vigário nos subúrbios de Petrópolis, onde era amigo das crianças e dos pobres dos morros, quando, em 1966, foi indicado e sagrado bispo auxiliar de Dom Agnelo Rossi em São Paulo. Atuou intensamente na Região Norte de São Paulo e em março de 1973, o Papa Paulo VI o nomeou Cardeal da Santa Igreja. Dirigiu a arquidiocese São Paulo de 1970 até 1998. Hoje é Arcebispo Emérito de São Paulo.

Na arquidiocese de São Paulo criou quarenta e três paróquias, incentivando e apoiando o surgimento de mais de duas mil Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nas periferias da metrópole paulistana, particularmente nas atuais dioceses sufragâneas de São Miguel, Osasco, Campo Limpo e Santo Amaro, além das regiões de Belém e de Brasilândia. Em 1972, lançou o Operação Periferia, para servir as áreas mais carentes da cidade. No ano seguinte, vendeu o Palácio Pio XII, indo morar em uma casa simples no bairro do Sumaré. Com isso conseguiu construir 1200 centros comunitários na periferia. Nesse período assinou também sete Planos de Pastoral, com prioridades sempre eleitas democraticamente pelas comunidades. Criou, em 1992, os Vicariatos de Comunicação e dos Construtores da Sociedade e, em 1993, o Vicariato para o Povo da Rua.

Como Arcebispo, tornou-se voz dos sem voz e arauto da justiça social em nosso país, assumindo de forma destemida a defesa dos direitos humanos, constantemente violadas pela ditadura militar (1964-1985). Foram momentos marcantes sua ida a Brasília em 1974, acompanhando familiares de presos políticos, para encontro com o general Golbery do Couto e Silva, quando apresentou dossiê sobre 22 casos de desaparecimentos, ou quando celebrou, em 1975, na Catedral da Sé, o histórico culto ecumênico em memória de Wladimir Herzog, jornalista morto na tortura dos porões da ditadura militar.

Em 1985, a Arquidiocese de São Paulo publicou o livro Brasil: nunca mais, um relato para a história do uso institucionalizado da tortura durante a ditadura militar. Em seu prefácio, Dom Paulo num relato de sua vivência reforça que a tortura além de desumana é o meio mais inadequado para levar-nos a verdade e chegar a paz. O livro permaneceu 91 semanas consecutivas nas listas dos 10 mais vendidos.

Ainda neste ano, a convite das igrejas da África do Sul pronunciou uma série de conferências como parte da campanha End of Conscription (Fim da Convocação Militar). Estimulou a criação do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidioceses de São Paulo, com o objetivo de coordenar e ajudar a resolver problemas locais de vários centros regionais de defesa dos direitos humanos. No ano seguinte, participou da fundação da Agência Ecumênica de Notícias e presidiu a celebração ecumênica da Paz na Praça da Sé. Em 1989 foi indicado oficialmente para o Prêmio Nobel da Paz.

Entre 2001 e 2004, representou a sociedade civil no Conselho Deliberativo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, e foi Membro Titular do Conselho da Cátedra UNESCO desse Instituto. Em 17/02/2002 a Universidade de Brasília concedeu o titulo de Doutor Honoris Causa ao Cardeal, cuja honra é também a causa dos pobres.

Entre 2001 e 2006 lançou dez livros, somando-se perto de 60 obras publicadas.

É pela sua vida dedicada aos Direitos Humanos que a Universidade de São Paulo tem o orgulho de conceder a Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns o VIII Prêmio USP de Direitos Humanos, na categoria Individual. 

 

 

Categoria Institucional

Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu artigo 3º, afirma que "todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal". E esse direito fundamental é que tem norteado, durante toda a sua existência, as atividades do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, além da proteção do Meio Ambiente e do Patrimônio.

Até 1879, os incêndios na cidade de São Paulo eram basicamente combatidos pela população que ficava em fila, e, do poço mais próximo iam os baldes passando de mão em mão, até chegarem ao prédio em chamas. Em 1851, pensou-se na criação de um grupo especialmente treinado para essa difícil missão e várias tentativas foram feitas durante a década de 1870, mas foi apenas na década seguinte que tal plano se concretizou de forma institucional: a 1º de março de 1880, começaram os trabalhos de extinção de incêndio na Capital do Estado de São Paulo, com a criação da Seção de Bombeiros, composta de 20 homens.

Nesses 127 anos de existência, várias foram as mudanças na corporação, como, por exemplo, a troca de veículos de tração animal por aqueles de tração a motor e a criação, em 1990, do sistema de Resgate para atendimento pré-hospitalar das ocorrências de salvamento. E nos momentos mais difíceis, tanto das pessoas comuns, como da cidade como um todo, nas grandes tragédias e catástrofes pessoais e da sociedade, o Corpo de Bombeiros esteve presente de forma heróica, com profissionalismo, persistência e prontidão. E é essa ação generosa desses homens e mulheres que gerou o reconhecimento da instituição por parte do estado que a abriga e por todo o país: por seis anos consecutivos, o bombeiro foi registrado como o profissional em que o brasileiro mais confia.

Toda essa excelência nas ações a favor da vida pode ser vista nos números que representam o tamanho da corporação e o alcance de seus atos. Diariamente, seu telefone de emergência recebe em média 30.000 ligações. A corporação conta hoje com 9.271 homens e mulheres, com 224 postos de atendimentos executando ações emergenciais de resgate, combate a incêndios e salvamentos totalizando mais de 500.000 atendimentos de ocorrências anualmente. Apenas em 2002, foram mais de dois mil incêndios, 48 mil salvamentos, 243 mil resgates e 128 mil trabalhos juntos à comunidade. Esses números incluem as atividades do 17º Grupamento de Bombeiros- Salvamar Paulista, que cobre, de numa extensão de 392.460 m, 283 praias da cidade do litoral do Estado de São Paulo.

Com a dedicação e a seriedade daqueles que integram suas fileiras, essa centenárias Corporação escreve gloriosa história, sempre pronta para novos desafios, buscando acompanhar, no país e no mundo, as evoluções tecnológicas e operacionais, para, cada vez mais, ofertar à nossa população, o que há de melhor em serviços de bombeiros.

Por tudo isso, a Universidade de São Paulo tem o orgulho de conceder ao Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do estado de São Paulo o VIII Prêmio USP de Direitos Humanos, na categoria Institucional.

 

 

 

Discurso de Abertura da Profª Dra. Maria Luiza Marcilio


Profa. Dra. Suely Vilela, Magnífica Reitora da USP
Dom Odilo Pedro, Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo, Vice-Reitor
Prof. Dr. Armando Corbani Ferraz, Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Dr. Sedi Hirano, Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns, Prêmio USP de Direitos Humanos 2007 - Categoria Individual ( não podendo estar presente por razões de saúde designou o Exmo. Sr. Dr. José Gregori, para representá-lo nesta solenidade).
Sr. Coronel Manoel Antonio da Silva Araújo, Comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Prêmio USP de Direitos Humanos 2007 - Categoria Institucional
Dra. Zilda Arns, Prêmio USP, 1ª edição, em 2000, em nome de quem cumprimento todos os demais Prêmio USP de Direitos Humanos aqui presentes.
Demais autoridades da USP, senhores Diretores de Unidades, senhores Professores, senhores Alunos e senhores Funcionários aqui presentes.
Autoridades aqui presentes ou representadas.
Minhas senhoras e Meus senhores.


A Universidade de São Paulo está hoje em festa. Comemora neste dia os dez primeiros anos da Comissão de Direitos Humanos.

Diretamente ligada ao Gabinete da Reitora, a Comissão de Direitos Humanos foi criada em fins de 1997, com a missão imediata de celebrar condignamente na Universidade, o jubileu da Declaração Universal dos Direitos Humanos(1998). Composta originalmente por 16 membros escolhidos dentre marcantes personalidades da sociedade e dentre professores da própria universidade, tive a honra de ser designada sua Presidente.

Para celebrarmos juntos esta festa de seus Dez Anos, a Comissão de Direitos Humanos convidou para aqui estarem de volta todos os contemplados (indivíduos e instituições) do Prêmio USP de Direitos Humanos, até a presente edição, modelos todos eles de ações afirmativas exemplares, na promoção dos valores fundamentais da pessoa humana, em nosso País.

Vivemos hoje numa sociedade com implacável perda de valores. Na falta de sentido da vida, as pessoas estão se afogando, no álcool ou na droga, vivendo freneticamente o momento presente. O nosso mundo está marcado por forte e perdulário consumismo— apesar de tanta pobreza; marcado ainda por um desejo de Poder a qualquer custo; marcado pela procura desenfreada de sensações radicais e de prazer fácil.

Ao mesmo tempo assistimos um fenômeno oposto, e explicitado de formas as mais inusitadas; há por toda parte uma explosão de espiritualidade a serviço da Paz, da justiça social, da superação de racismos, de intolerâncias, de discriminações de todo tipo, a serviço de uma solidariedade com os mais pobres e oprimidos, um repudio à corrupção disseminada.

A concepção de Direitos Humanos liga-se ao reconhecimento da necessidade de proteção, de afirmação e de respeito à Pessoa do Outro, em sua dignidade integral. Prende-se assim, ao principio da Solidariedade Humana, no plano individual e no plano comunitário, nacional e internacional. Esse princípio implica, por sua vez, no valor da Igualdade. Não importa a origem do Outro: seu nascimento, sua idade, sua cor, sua fortuna, sua religião. Principio que se integra ainda com o da Tolerância, do respeito e da promoção da dignidade de cada pessoa em sua totalidade. Implica ainda no principio do respeito e da proteção ao Meio Ambiente, à Natureza, palco limitado onde se insere, se movimenta e sobrevive o ser humano. Ao conjunto dessas forças valorativas impõem-se os princípios da Paz e o da Justiça Social.

Assim, pois, os valores da Solidariedade, da Igualdade, da Tolerância, da Paz e da Justiça Social compõem o conjunto dos Direitos Humanos imanentes e difusos da Humanidade e não podem estar ausentes da Universidade.

Na sociedade de consumo em que estamos inseridos, com suas conexões mediáticas e tecnológicas, o ser humano é jogado muitas vezes, num vazio de pessimismo e de desesperança. Nem tudo depende da transformação ou do progresso social, político ou tecnológico do mundo. Disso está se dando conta a humanidade. Daí a necessidade de se buscar uma aproximação da Ética com a Sociedade.

A Universidade de São Paulo compreendendo essa aproximação criou a sua Comissão de Direitos Humanos.

Para responder ao desiderato de sua criação, à expectativa de sua presença e explicitar afirmativamente a esperança que nela foi depositada, a Comissão realizou atividades, representações, serviços acadêmicos, debates, cursos, orientações – na esperança de estar a serviço da promoção dos valores proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Seus objetivos fundamentais, determinantes e deliberados foram sempre os de contribuir para a educação em Direitos Humanos, e de promover a consolidação de uma cultura de respeito à dignidade humana, em seus valores difusos e imanentes de liberdade, de justiça, de igualdade, de solidariedade, de tolerância e de paz, praticas essenciais para a formação do cidadão.

Dentre as ações criadas e mantidas permanentemente pela Comissão desde seu inicio estão especialmente duas: O Prêmio USP de Direitos Humanos (hoje em sua 8ª edição) e a Biblioteca Virtual de Direitos Humanos, (com média de mil e quinhentos visitantes/dia;um dos mais prestigiosos serviços que a USP presta ao país).

Pontuamos, a seguir algumas das atividades mais emblemáticas e marcantes da Comissão de Direitos Humanos da USP ao longo destes dez anos, enfatizando sempre que em todas essas ações esteve sempre claro e consciente, o objetivo perseguido de educar para os valores dos DDHH.

Em 1998, realizamos inúmeras atividades solenes, para celebrar condignamente na Universidade de São Paulo, os 50 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse que é o maior documento redigido pelo Homem e para o Homem.

Uma dessas atividades foi o curso de extensão intitulado “Como amar uma criança: Paulo Freire e Janusz Korczac” que contou com 150 alunos. As parcerias com o Instituto Paulo Freire e com a Associação Janusz Korczak garantiram o brilhantismo dessa realização.

Nesse mesmo ano foi lançada a publicação da obra coletiva, sob a direção da professora Maria Luiza Marcílio e do Dr. Lafaiete Pussoli: Cultura dos Direitos Humanos. Integraram essa obra artigos assinados por André Franco Montoro, Dom Candido Padim, Fábio Konder Comparato, Flávia Piovezan, José Gregori, Belisário dos Santos Junior, Maria Luiza Marcílio dentre outros, com Prefácio do Reitor Jacques Marcovitch e apresentação de Alceu de Amoroso Lima, presidente do Instituto Jacques Maritain do Brasil.

Imprimimos 10 mil volantes artísticos com o texto integral da Declaração Universal de Direitos Humanos e outros 5 mil, com o texto integral da Declaração Universal dos Direitos da Criança para distribuição a alunos, professores e à sociedade, em várias oportunidades. Sempre julgamos de grande relevância que cada cidadão tenha uma copia desse magno documento. Por essa mesma razão, hoje, aqui nesta solenidade, distribuímos a todos uma nova edição desse documento que está sendo distribuída a todos presentes. Durante um mês e antes do dia 10 de dezembro de 1998, o dia internacional dos DireitosHumanos, estendemos nos postes principais da entrada da Cidade Universitária 30 banners gigantes, cada um com a inscrição de um dos artigos da Declaração Universal.

Para fechar o ano da celebração do jubileu do importante documento da ONU, a Comissão organizou, entre 2 e 4 de Dezembro de 1998, o Congresso Nacional: 50 anos da Declaração de Direitos Humanos, no Salão Nobre da histórica Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Foram convidados da Comissão para compor suas mesas redondas ou proferir conferencias, vários nomes de reconhecida atuação na promoção dos Direitos Humanos, dentre os quais mencionamos os professores da USP: Renato Janine Ribeiro, Fábio Konder Comparato, José Carlos Moreira, então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Paulo Sérgio Pinheiro, Maria Victoria Benevides, Guido Soares, Kabengele Munanga, sendo o Congresso encerrado com a fala do reitor Jacques Marcovicht. Foram ainda convidados como conferencistas o Secretario Nacional de Direitos Humanos, Dr José Gregori, o Secretario da Justiça do Estado, Belisario dos Santos Junior, a professora Flávia Piovesan da PUC-SP e Procuradora de Estado, o Deputado Renato Simões, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Oded Grajew, fundador da Associação ABRINQ e da Ethos, Gilberto Dupas, coordenador de pesquisas internacionais do IEA, Antonio Augusto Cançado Trindade, vice presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Jorge Wertheim, representante da UNESCO no Brasil. O Congresso foi aberto pela Professora Maria Luiza Marcílio e foi abrilhantado pela Orquestra Sinfônica da USP sob regência de Ronaldo Bologna e pelo Coral da USP sob a regência de Benito Juarez.

Em 2003, com a intenção de levar o acervo da Biblioteca Virtual de Direitos Humanos às crianças e jovens das escolas publicas de toda a Grande São Paulo (nem todas com acesso à Internet), a Comissão, em parceria com a Academia paulista dos Magistrados, lançou um CD-ROM "Direitos Humanos Textos Internacionais e Nacionais", com 5 mil cópias, que foram distribuídas às Bibliotecas de cada Escola Pública (municipal e estadual), da cidade de São Paulo e para as 600 Faculdades de Direito, do País. Sessões solenes marcaram a entrega do CD-ROM à Secretaria de Educação do Estado e do Município, com presença de professores representantes de cada escola fundamental, municipal e estadual da cidade de São Paulo. Falaram aos professores das redes oficiais de ensino, os respectivos Secretários da Educação (do Município e do Estado), o Pró-Reitor de Cultura e Extensão da USP, Professor Adilson Avanci de Abreu. Nessa mesma solenidade foram proferidas Aulas sobre Direitos Humanos aos professores da Rede de ensino oficial presentes pelos professores Enrique Levandowski, da Faculdade de Direito (membro da Comissão de Direitos Humanos e hoje do Supremo Tribunal Federal), pelo professor Fábio Bezerra Brito, ex estagiário da Comissão e hoje Diretor do Colégio de Aplicação da FE/ USP, e por mim mesma.

A Faculdade de Saúde Publica da USP e a Comissão de Direitos Humanos, associadas organizaram, em três anos sucessivos, Seminários Nacionais dentro do tema “Violência e Criança”, com a publicação de suas atas.

Em 2003, a Fundação Ford, tendo em vista as concepções distorcidas e generalizadas no país sobre Direitos Humanos, resultante da quase nenhuma existência de cursos formais existentes nessa área, decidiu abrir um concurso nacional, destinado a estimular as Faculdades de Direitos credenciadas para o nível de Pós-Graduação, a criarem um primeiro Mestrado Interdisciplinar em Direitos Humanos no Brasil. Para isso contratou a Fundação Carlos Chagas para dirigir esse Concurso Nacional. Uma Comissão Internacional de peritos na área foi formada para estabelecer as bases do Concurso e em seguida para avaliar as candidaturas apresentadas. Dessa Comissão Internacional fez parte a presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP. Para que a Faculdade de Direito da USP participasse do concurso, a Comissão de Direitos Humanos (através da ação direta do professor Enrique Levandowski e da Professora Maria Luiza Marcilio), associada ao professor Guido Soares (então Diretor em exercício da Faculdade de Direito), trabalharam intensamente para a montagem do dossiê de um curso de Mestrado intra-unidades e interdisciplinar a ser apresentado para aquele certame. A Faculdade de Direito da USP venceu o concurso em primeiro lugar, recebeu dotação da Fundação Ford e procedeu à seleção e matrícula dos primeiros alunos. O Mestrado interdisciplinar em Direitos Humanos que reservou parte substantiva de suas 15 vagas, a alunos provenientes de minorias étnicas e para portadores de deficiências, iniciou suas aulas em 2005 e esta formando este ano seus primeiros mestres. São esses primeiros Mestres em Direitos Humanos, a esperança de serem os multiplicadores de uma melhor competência nas ações que liderarem em defesa da Vida e dos direitos do Cidadão brasileiro.

A Comissão, consultada pela Reitoria teve ocasião de indicar, em três ocasiões sucessivas, o nome da Dra. Zilda Arns – o Primeiro Prêmio USP de Direitos Humanos—para o Prêmio Nobel da Paz.

Enfim, e para não alongar por demais esta lista, e não cansar os presentes, gostaria de dizer que constantemente chamada a dirimir problemas graves de violência aos direitos individuais de cidadãos e não sendo esta sua competência, a Comissão de Direitos Humanos da USP não deixa de dar uma palavra de orientação aos injustiçados ou de indicar-lhes caminhos certos para encaminhar suas reivindicações ou denuncias.

Nesta solenidade, a Comissão de Direitos Humanos não apenas comemora seus dez anos de atuação, mas igualmente e com grande alegria reconhece o valor das ações e confere o Prêmio USP de Direitos Humanos à grande personalidade de Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns, e ao valoroso Corpo de Bombeiros de São Paulo, defensor da Vida do cidadão paulista, outorgando-lhes o maior Prêmio da Universidade São Paulo.

Em nome da ética e dos valores que compõem a dignidade da pessoa humana, a Universidade de São Paulo se prepara agora para a celebração no próximo ano, dos 60 anos do magno documento da humanidade, fundamento da defesa e da promoção dos Direitos do “Homem Todo e de Todos os Homens”, na feliz expressão de um de seus promotores, o filósofo Jacques Maritain.

Muito obrigada.


Discurso de Encerramento da Magnífica Reitora Profa. Dra. Suely Vilela

Esta solenidade traz um brilho especial à Universidade de São Paulo, pois comemoramos os 10 anos da sua Comissão de Direitos Humanos e outorgamos o Prêmio USP de Direitos Humanos, em sua oitava edição.

Criada em 1997 para promover a defesa dos Direitos Humanos, da democracia, tolerância, solidariedade, ética e da igualdade, entre outros princípios humanistas, a Comissão, nos seus primeiros meses, teve como primeira tarefa, realizada com brilhantismo, a organização das comemorações, em nossa instituição, do Cinqüentenário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Estamos, portanto, às vésperas do aniversário dos 60 anos da Declaração, cuja existência permitiu a muitas nações unir esforços em torno da defesa intransigente desses direitos, os quais, infelizmente, ainda são cotidianamente desrespeitados e ameaçados em muitas regiões.

Ao longo dessa década de existência, a Comissão tem desenvolvido série de iniciativas, como a publicação de livros, realização de congressos, jornadas, entre outros eventos. Estas reafirmam a sua importância na formulação de políticas relacionadas aos Direitos Humanos.

Destaco, entre suas ações, a criação da Biblioteca Virtual de Direitos Humanos, a qual reúne documentos contemporâneos da ONU, de outros organismos internacionais, do governo e da Universidade sobre o tema. Documentos históricos, produzidos em diferentes âmbitos e épocas, sobre os princípios humanistas presentes na Declaração Universal fazem, também, parte do importante acervo.

Outra iniciativa de alta relevância é o Prêmio USP de Direitos Humanos, que se encontra em sua oitava edição. Trata-se do reconhecimento de pessoas e instituições que lutam, permanentemente, por um mundo mais justo, digno e menos violento.

Nessa edição, a Comissão escolheu como ganhadores nas categoriais individual e institucional, respectivamente, Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, e o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Congratulo-me com os membros da Comissão, pela justa escolha.

Dom Paulo Evaristo Arns é reconhecido mundialmente por sua luta constante pelo respeito aos Direitos Humanos. Esse brasileiro de Criciúma, Santa Catarina, ingressou na Ordem de São Francisco de Assis, em 1939. Desde o início de sua vida eclesiástica se dedicou às crianças e aos pobres do Brasil.

À frente da Arquidiocese Metropolitana por 28 anos, criou 43 paróquias e mais de duas mil Comunidades Eclesiais de Base, além dos 1.200 centros comunitários na periferia.

Dom Paulo foi considerado a “voz dos sem voz” nos anos de chumbo da ditadura militar. Sua luta intransigente o tornou conhecido por muitos dos seus detratores como o “bispo vermelho” ou “o subversivo”. Mas, para a maioria dos brasileiros, Dom Paulo se tornou o “bispo da esperança”e o “bispo dos pobres”.

Entre as mais de quatro dezenas de livros que publicou destaco o “Brasil: nunca mais”, um relato sobre o uso sistemático da tortura no Brasil durante a ditadura.

Em 1989, seu trabalho foi reconhecido mundialmente por meio de sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

A dedicação aos necessitados é uma característica de família. Sua irmã, a doutora Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, também é dona de uma trajetória dedicada ao amor pelo próximo e, coincidentemente, foi a ganhadora, em 2000, da primeira edição do Prêmio USP de Direitos Humanos.

Cumprimento Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal Emérito de São Paulo, aqui representado pelo Dr. José Gregori, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Cidade de São Paulo, pela justa premiação.

Quero ressaltar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma, em seu terceiro artigo, que “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Esse tem sido o princípio, nesses 127 anos de existência, da atuação do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Seus valores membros não medem esforços na sua luta em prol da preservação da vida.

Além da atuação firme nos acidentes do cotidiano, saliento que, graças à incansável dedicação do Corpo de Bombeiros, muitas vidas foram poupadas em catástrofes históricas do nosso Estado.

Saúdo, portanto, a decisão da Comissão em homenagear esses milhares de heróis anônimos, que arriscam, todos os dias, suas vidas em benefício do próximo. Eles se constituem em exemplos que dignificam a Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Cumprimento, na pessoa do Coronel da Polícia Militar Manoel Antonio da Silva Araújo, comandante do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, todos os membros da distinta corporação.

Agradeço a todos que, nesses 10 anos, participaram da Comissão de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo, presidida pela Professora Maria Luiza Marcílio, que se distingue pela constante luta em nome dessa causa, cuja defesa se constitui em uma das obrigações fundamentais da nossa Instituição.

Cumprimento-a, e também a Professora Maria Cristina Castilho Costa, pelo lançamento do livro comemorativo dos Dez Anos da Comissão de Direitos Humanos, publicado pela Editora da USP.

Aproveito o ensejo para render minhas homenagens aos vencedores de edições anteriores do Prêmio. Com seu trabalho em favor dos Direitos Humanos consolidam a importância da premiação.

Congratulo-me, ao final, com todos os docentes, funcionários e estudantes aqui presentes, que enxergam na defesa permanente dos Direitos Humanos, a promessa de um mundo melhor.

Muito obrigada!

Suely Vilela
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